segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A Câmara Escura

Depois de seis meses afastado da escrita por ter estado a concluir os meus estudos na Academia Internacional de Cinema e Televisão (que aconselho desde já, quem puder, a frequentar os seus cursos. Pois são lecionados por grandes profissionais do Cinema e da TV), hoje irei escrever sobre uma das grandes descobertas no campo da ótica e um dos acontecimentos mais importante para a invenção da fotografia: a Câmara Escura.

A fotografia foi um processo evolutivo ao longo dos séculos, e não teve apenas um inventor. É um aglomerado de vários avanços e acontecimentos distintos ao longo da sua história. 

A câmara escura é um dispositivo ótico que levou à invenção da fotografia e à câmara fotográfica. Ao longo da história foram construídos vários modelos, desde câmaras enormes, do tamanho de salas, até câmaras pequenas. Hoje, existem poucas no mundo, mas é possível ver algumas. Um dos locais que conseguimos ver um desses dispositivos é no Rio de Janeiro, no Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz. A maior caixa escura do mundo encontramos em Constitution Hill, na cidade Aberystwyth, condado de Ceredigion, no Reino Unido. É uma caixa negra simples, ou uma sala, completamente fechada à entrada de luz. Possui um pequeno orifício em um dos lados por onde passa uma quantidade ínfima de luz externa e atinge uma superfície interna. Com esse dispositivo conseguimos reproduzir imagens. Quanto menor a abertura melhor é a definição da imagem, mas fica sempre invertida - apesar de que se usarmos espelhos conseguimos projetar uma imagem que não fique virada. Na parede paralela à que possui um orifício, encontramos uma superfície fotossensível.

Fotossensibilidade é algo que ao ser exposto à luz reage à sua estimulação e sofre alguma mudança. Toda a substância que existe e conhecemos é fotossensível, por outras palavras, toda a matéria modifica-se com a luz. É o caso, por exemplo, de um tecido que desbota ao sol, ou então, as pessoas que por estarem expostas à luz ultravioleta sofrem facilmente de queimadura solar. Alguns objetos demoram milhares de anos para se modificarem, enquanto outros necessitam de apenas alguns segundos.

Os princípios da câmara escura é atribuído ao filósofo grego Aristóteles, a.C, que era utilizada para fazer observações astronómicas. Mas a ampla utilização do conceito técnico na produção de imagens como uma perspetiva linear em pinturas, mapas, produções de teatro, arquitetura e posteriormente na fotografia começou na Renascença e culminou na Revolução Industrial.

No século XI um erudito árabe Alhazem (Ibn al-Haytham) fez referência à câmara escura como um auxílio na observação de um eclipse solar e, desenvolveu um estudo da teoria da arte da refração da luz. Começou a ser usada na pintura e na produção de desenhos no século XIV por alguns artistas.

Leonardo Da Vinci, no século XV, foi um dos que utilizou a câmara escura e estudou sobre o mecanismo de captura de imagens. Além de ter feito uma descrição desse mecanismo publicado no seu livro de notas, o Codex Atlanticus (1502): "Se a fachada de um edifício, ou um lugar, ou uma paisagem é iluminada pelo sol e um pequeno orifício é feito na parede de um quarto em um prédio de frente para esta, que não está diretamente iluminada pelo sol, então todos os objetos iluminados pelo sol irão enviar as suas imagens através desta abertura e irá aparecer, de cabeça para baixo, na parede em frente à abertura".

Baseado nos estudos de Da Vinci, um cientista napolitano Giovanni Baptista Della Porta cria uma caixa fechada com um pequeno orifício coberto por uma lente, que permitiu desse modo aumentar a abertura, o que levou a obter uma imagem mais clara e sem perder a nitidez. Este fenómeno só foi possível devido à capacidade de refração do vidro, processo que tornava convergentes os raios luminosos refletidos pelo objeto. Surgia assim o embrião das máquinas fotográficas.

Como verificamos atrás quanto menor a abertura melhor é a definição da imagem. Por outras palavras, podemos dizer que ao mudar o diâmetro do orifício tornou-se possível ter uma imagem mais nítida. Com o avanço dos estudos foi instalado um sistema, junto com a lente, que permitia aumentar e diminuir essa abertura: este foi o primeiro “diafragma”. Quanto mais fechado este diafragma, maior a hipótese de focar objetos com diferentes distâncias da lente.

A esta altura, já reuníamos tudo o que seria necessário para produzir uma imagem de forma satisfatória na câmara escura. Mas salvar essa mesma imagem diretamente num papel para a posterioridade sem a interveniência de um artista ou pintor, era a nova barreira encontrada pelos estudiosos dessa época. Só mais tarde com o desenvolvimento da química foi possível ultrapassar essa dificuldade.

Mas isso falarei num outro post,  até ao próximo, com um amplexo cinematográfico:
Cláudio Almeida
www.claudioalmeida.pt.vu