Verificámos o mês passado que o ato físico da montagem, o processo de “corte e cola”, da película de filme surge com os primeiros filmes. Um desses filmes foi a demolição de um muro dos irmãos Lumière, mas a história da montagem não fica apenas por aqui.
Faltava, então, ao cinema da época o sentido lógico da montagem, que consiste na utilização das diferentes distâncias, posições e movimentos de câmara que permite filmar acontecimentos e pessoas em diversas posições e ângulos. Graças a este estilo diversificado e moderno de cortar e colar é possível passar uma mensagem, explícita, sem ser preciso justificar por palavras o que queremos mostrar por imagens.
Podemos resumir que a verdadeira essência da montagem de um filme está na diversidade de sentidos e mensagens que com ela conseguimos passar para o público. Mas como? Onde? E quando surgiu o sentido lógico da montagem? Sobre isto falarei hoje no meu post.
Georges Méliès foi um ilusionista e realizador francês que ficou famoso pelas suas produções de ilusionismos utilizando o vídeo. Ficou conhecido como o "pai dos efeitos especiais” e os seus trabalhos foram considerado os primeiros filmes de ficção científica.
Foi um dos que mais contribuiu para os desenvolvimentos técnicos - foi o primeiro cineasta a crias storyboards – e narrativos no cinema. O seu filme mais conhecido, realizado em 1902, é a Le Voyage dans la lune(Viagem à Lua). Foi um filme mudo inspirado por uma ampla variedade de fontes, incluindo o romance de Júlio Verne Da Terra à Lua.~
Aqui, é retratado a aventura de um grupo de astrónomos que viajam à Lua numa bala, exploram a superfície da Lua, escapam de um grupo de habitantes lunares, e retornam à terra com um prisioneiro. O elenco é constituído por atores franceses de teatro dirigidos pelo próprio Méliès, no principal papel do professor Barbenfouillis, e é filmado num estilo totalmente teatral.
Os filmes do início do século XX são mais elaborados, no que diz respeito à sua estrutura narrativa, que os primeiros filmes da história do cinema. Estes novos filmes passam a ter vários planos ligados entre si, e a filmagem assume uma relação direta com a montagem.
O americano Edwin Porter, influenciado pelo estilo documentalista dos irmãos Lumiére e as fantasias teatrais de Georges Méliès, começa a introduzir nos seus filmes planos com cortes de edição. Estes planos eram realizados em diferentes momentos e lugares para compor uma narrativa.
O primeiro filme em que colocou em prática este método foi, em 1903, no The Great Train Robbery, que tinha uma duração aproximadamente de 10 minutos. Além disto, este filme é considerado o primeiro grande clássico do cinema americano que inaugurou o género western. Edwin Porter teve um grande contributo em prol de uma maior clareza da narrativa.
Outro grande visionário, e sucessor de Edwin Porter, que muito contribuiu para enriquecer a linguagem narrativa cinematográfica foi David Wark Griffith. Foi um realizador de cinema, considerado o pai da montagem cinematográfica moderna, pois as suas contribuições foram essenciais para alterar a forma de fazer cinema. Conseguiu com o seu trabalho mostrar, mais do que Porter - que apenas mudava de plano por razões físicas –, como era exequível criar um maior impacto dramático, através da justaposição de planos. Tudo isto graças à sua ideia de usar a variação de planos para criar impacto emocional, através do grande plano geral, o close-up, o plano de pormenor de um objeto, a câmara subjetiva – o ponto de vista da personagem ou do ator –, o travelling – a deslocação da câmara de filmar no espaço –, entre outras grandes contribuições.
Com estas experiências conseguiu demonstrar que era possível ampliar o interesse do drama em determinada situação, o que levaria o espectador a envolver-se emocionalmente com o enredo. Marcel Martin vai mais longe afirmando, no seu livro Le langage cinématographique, que se David Wark Griffith não foi o inventor da montagem nem o close-up, uma coisa é certa, é o primeiro na história do cinema a conseguir com eles um “meio de expressão”.
Tudo isto é colocado em prática, em 1915, com o filme The Birth of a Nation e, em 1916, com Intolerance. Estes filmes foram considerados como os marcos históricos da montagem cinematográfica. A aplicação deste método de Griffith permitiu aumentar e enriquecer as possibilidades do relato cinematográfico. Nestes filmes foram usados todos os procedimentos de montagem desenvolvidos até então: os diversos enquadramentos, closes e planos fechados que destacam a ação.
Rapidamente o estilo narrativo de Griffith atraiu plateias, os seus filmes percorreram o mundo, chegando à União Soviética após a revolução de 1917. As suas produções usufruíram de um sucesso enorme junto do público, dos políticos e, sobretudo, dos novos cineastas.
Isto contribuiu para que em 1919 fosse criada a Faculdade de Cinema em Moscovo, e os seus métodos pedagógicos passaram pela análise das técnicas de Grifftith e que, consequentemente, contribuíram para o surgimento de várias teorias sobre a montagem cinematográfica.
Destas teorias soviéticas podemos destacar alguns grandes cineastas, mas sobre isto irei falar no meu próximo post. Desejo a todos os meus leitores um Feliz Ano Novo, um excelente 2017.
Um forte Abraço
Cláudio Almeida