segunda-feira, 29 de junho de 2015

Projeção de Sombras

Vimos anteriormente que são muitas as evidências arqueológicas de que o ser humano nunca deixou de interessar-se pela busca da fixação gráfica do movimento. Neste artigo falarei sobre a Projeção de Sombras (sombras chinesas), uma das outras formas primitivas e que também antecederam o início da história do cinema.

A Projeção de Sombras é de origem oriental, acredita-se que tudo iniciou na caverna de Altamira, onde os homens primitivos utilizavam o fogo para projetar a sua própria sombra na parede. Para conseguir esse resultado acendiam uma fogueira, ficavam entre ela e a parede, e dessa forma obtinham enormes figuras. Mas não parou por aí, foi evoluindo ao longo dos tempos e o que era uma prática doméstica - se assim posso dizer -, dos homens das cavernas, tornou-se num grande espetáculo sofisticado para grandes plateias até hoje, um dos precursores do cinema.

Existem três géneros diferentes de Projeção de Sombras, são eles: os jogos de sombras, as sombras de mão e o teatro de sombras. Nos jogos de sombras, o homem participa diretamente como ator, coloca-se à frente de uma fonte de luz e gesticula de forma adequada para criar uma espécie de teatro em que surge apenas a sua silhueta. Nas sombras de mão, o homem usa-as para imitar as figuras humanas - ou de animais -, e às vezes usa pequenos acessórios que facilitam o efeito. Um bom exemplo desta arte é o maravilhoso trabalho de Felicien Trewey, que veremos mais à frente neste artigo.

O teatro de sombras contava com um operador humano, este manejava habilmente silhuetas articuladas, eram recortadas em pele de burro, ou peixe, bem fina com aplicações de papel pintado, a fim de produzirem efeitos coloridos. Os espetáculos de teatro de sombras eram acompanhados de música e declamação de textos alusivos aos feitos dos heróis.

As sombras chinesas, como hoje conhecemos, tiveram o seu início há mais de dois mil anos, mais concretamente no séc. II antes de Cristo. Reza a lenda que um imperador chinês da dinastia Han, chamado de Wu-Di, sentia-se prostrado com a perda da sua bailarina favorita e ao observar a sua sombra projetada num tecido de linho sentiu-se consolado. Pediu então ao mago da corte que trouxesse de volta o “Reino das Sombras”, caso contrário ele seria decapitado. O mago, então, teve a brilhante ideia de confeccionar a silhueta de uma bailarina com pele de peixe, macia e transparente, ordenou que fosse instalado no jardim do palácio uma cortina branca contra a luz do sol. E quando tudo já estava pronto organizou um espetáculo para o Imperador e para sua corte, onde ao som de uma flauta surgia a sombra de uma bailarina a dançar de forma ágil e graciosa. Tinha começado assim o Teatro de Sombras que hoje conhecemos.

O “Reino das Sombras” era visto, nesta altura, como habitat dos mortos porque existia a associação direta da sombra com a morte, e era muito utilizada a expressão “a sombra dos mortos”. Para Maryse Badiou o Teatro de Sombras nasce da origem mágica e religiosa do ritual do homem de triunfar sobre a morte, de fazer reviver eternamente um ser querido.

As lendas explicam maravilhosamente bem o que, no seu início, não era outra coisa que o impulso irrefreável de um desejo: o desejo de recuperar no presente uma pessoa já morta ou um ser ou coisa estimados e já desaparecidos ou distantes. (Badiou, Marise,2004, p4).

As sombras adquiriram no oriente um estatuto de verdadeira arte, mas a sua popularidade no ocidente só chegou na segunda metade do século XVIII. É provável que elas tenham chegado à Europa pelos comerciantes árabes. Mas só ganhou importância com o ilusionista francês Felicien Trewey, que foi uma das primeiras pessoas a pousar para os irmãos Lumiérès, muito antes da divulgação pública do cinematógrafo. Trewey usava as suas mãos de uma forma espantosa ao ponto que todas as suas inúmeras sombras imitavam o movimento de pessoas e animais. Exemplos dessas representações fantásticas são o caso do cão que come uma presa, um homem a pescar e uma discussão de um casal.

Do lado esquerdo um homem a falar. Do lado direito um elefante a balançar a tromba

O homem nunca se sentiu satisfeito com o que tinha e esse facto levou-o ao cinema que hoje o mundo todo conhece. Esta evolução não para por aqui. Ainda existe um longo percurso a trilhar, muitos anos de estudos e avanços científicos…

Como verificámos até aqui o homem por uma razão ou por outra sempre foi movido pelo desejo da reprodução do movimento. Seja de forma de desenho - as figuras rupestres -, de forma arquitectónica ou por último de forma a usar o fogo ou a luz, a seu favor para criar sombras e assim imortalizar um momento, um ente querido ou meramente representar o movimento de modo a entreter as pessoas.

O leitor acha que o cinema nasceu como é conhecido no século XXI? Está enganado! O que posso dizer-lhe é que o cinema nasceu na hora certa e no lugar certo. Eu vou continuar esta aventura de escrever sobre este tema: Olhar Cinematográfico e Audiovisual – A história do cinema.

Quem estiver interessado em continuar esta aventura comigo, de conhecer melhor a sétima arte, não deixe de visitar este espaço.

Até breve!
Saudações cinematográficas

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