"Olhar Cinematográfico e Audiovisual - Desde o Inicio até ao Século XXI"
É um blogue onde eu irei abordar temas da história, da estética cinematográfica, entre outros como a música e a área teatral que envolve o cinema pré e pós-sonoro.
Verificámos o mês passado que o ato físico da montagem, o processo de “corte e cola”, da película de filme surge com os primeiros filmes. Um desses filmes foi a demolição de um muro dos irmãos Lumière, mas a história da montagem não fica apenas por aqui.
Faltava, então, ao cinema da época o sentido lógico da montagem, que consiste na utilização das diferentes distâncias, posições e movimentos de câmara que permite filmar acontecimentos e pessoas em diversas posições e ângulos. Graças a este estilo diversificado e moderno de cortar e colar é possível passar uma mensagem, explícita, sem ser preciso justificar por palavras o que queremos mostrar por imagens.
Podemos resumir que a verdadeira essência da montagem de um filme está na diversidade de sentidos e mensagens que com ela conseguimos passar para o público. Mas como? Onde? E quando surgiu o sentido lógico da montagem? Sobre isto falarei hoje no meu post.
Georges Méliès foi um ilusionista e realizador francês que ficou famoso pelas suas produções de ilusionismos utilizando o vídeo. Ficou conhecido como o "pai dos efeitos especiais” e os seus trabalhos foram considerado os primeiros filmes de ficção científica.
Foi um dos que mais contribuiu para os desenvolvimentos técnicos - foi o primeiro cineasta a crias storyboards – e narrativos no cinema. O seu filme mais conhecido, realizado em 1902, é a Le Voyage dans la lune(Viagem à Lua). Foi um filme mudo inspirado por uma ampla variedade de fontes, incluindo o romance de Júlio Verne Da Terra à Lua.~
Aqui, é retratado a aventura de um grupo de astrónomos que viajam à Lua numa bala, exploram a superfície da Lua, escapam de um grupo de habitantes lunares, e retornam à terra com um prisioneiro. O elenco é constituído por atores franceses de teatro dirigidos pelo próprio Méliès, no principal papel do professor Barbenfouillis, e é filmado num estilo totalmente teatral.
Os filmes do início do século XX são mais elaborados, no que diz respeito à sua estrutura narrativa, que os primeiros filmes da história do cinema. Estes novos filmes passam a ter vários planos ligados entre si, e a filmagem assume uma relação direta com a montagem.
O americano Edwin Porter, influenciado pelo estilo documentalista dos irmãos Lumiére e as fantasias teatrais de Georges Méliès, começa a introduzir nos seus filmes planos com cortes de edição. Estes planos eram realizados em diferentes momentos e lugares para compor uma narrativa.
O primeiro filme em que colocou em prática este método foi, em 1903, no The Great Train Robbery, que tinha uma duração aproximadamente de 10 minutos. Além disto, este filme é considerado o primeiro grande clássico do cinema americano que inaugurou o género western. Edwin Porter teve um grande contributo em prol de uma maior clareza da narrativa.
Outro grande visionário, e sucessor de Edwin Porter, que muito contribuiu para enriquecer a linguagem narrativa cinematográfica foi David Wark Griffith. Foi um realizador de cinema, considerado o pai da montagem cinematográfica moderna, pois as suas contribuições foram essenciais para alterar a forma de fazer cinema. Conseguiu com o seu trabalho mostrar, mais do que Porter - que apenas mudava de plano por razões físicas –, como era exequível criar um maior impacto dramático, através da justaposição de planos. Tudo isto graças à sua ideia de usar a variação de planos para criar impacto emocional, através do grande plano geral, o close-up, o plano de pormenor de um objeto, a câmara subjetiva – o ponto de vista da personagem ou do ator –, o travelling – a deslocação da câmara de filmar no espaço –, entre outras grandes contribuições.
Com estas experiências conseguiu demonstrar que era possível ampliar o interesse do drama em determinada situação, o que levaria o espectador a envolver-se emocionalmente com o enredo. Marcel Martin vai mais longe afirmando, no seu livro Le langage cinématographique, que se David Wark Griffith não foi o inventor da montagem nem o close-up, uma coisa é certa, é o primeiro na história do cinema a conseguir com eles um “meio de expressão”.
Tudo isto é colocado em prática, em 1915, com o filme The Birth of a Nation e, em 1916, com Intolerance. Estes filmes foram considerados como os marcos históricos da montagem cinematográfica. A aplicação deste método de Griffith permitiu aumentar e enriquecer as possibilidades do relato cinematográfico. Nestes filmes foram usados todos os procedimentos de montagem desenvolvidos até então: os diversos enquadramentos, closes e planos fechados que destacam a ação.
Rapidamente o estilo narrativo de Griffith atraiu plateias, os seus filmes percorreram o mundo, chegando à União Soviética após a revolução de 1917. As suas produções usufruíram de um sucesso enorme junto do público, dos políticos e, sobretudo, dos novos cineastas.
Isto contribuiu para que em 1919 fosse criada a Faculdade de Cinema em Moscovo, e os seus métodos pedagógicos passaram pela análise das técnicas de Grifftith e que, consequentemente, contribuíram para o surgimento de várias teorias sobre a montagem cinematográfica.
Destas teorias soviéticas podemos destacar alguns grandes cineastas, mas sobre isto irei falar no meu próximo post. Desejo a todos os meus leitores um Feliz Ano Novo, um excelente 2017.
Hoje irei abordar o tema da montagem no cinema. A Montagem é um processo que consiste em selecionar, ordenar e ajustar os planos pré-gravados. O que seria da estética cinematográfica moderna se não fosse a edição? Vou mais longe. O que seria do cinema do século XXI se não fosse a existência da montagem?
Para algumas pessoas a montagem e a edição é a mesma coisa. Eu prefiro, se me permitem, separar as duas. Considero a edição algo mais complexo que a montagem. A montagem, para mim, é uma etapa da edição. Além desta etapa, na edição, temos toda a sonoplastia que no final faz um todo. Portanto a edição é o aglomerado que inclui a montagem, a composição musical, a captação de sons ambientes, a colorização, entre outros. Mas hoje ficarei apenas pela montagem. Falarei numa outra oportunidade sobre as outras etapas da edição cinematográfica.
Os primeiros filmes não tinham montagem, eram todos gravados em um único plano. O suporte de gravação apenas permitia a captação de imagens de curta duração, pouco mais de 1 minuto. Acabava a bobina, acabava o filme. Isto acontecia por que além da curta duração de gravação do suporte, existia também a limitação da tecnologia ótica, pois ainda era muito embrionária.
Recentemente escrevi um post sobre os pais do cinema, os irmãos Auguste e Louis Lumière, e os seus filmes. Se os primeiros filmes dos irmãos Lumière levaram ao nascimento do cinema, podemos, igualmente, afirmar que um dos seus filmes – Démolition d’un mur – foi o atear do rastinho da história da montagem cinematográfica. Apesar desse filme ainda não ter uma montagem complexa, como existe no século XXI, é considerado o embrião deste processo.
No filme, vemos um muro a ser demolido e, depois de uns segundos de ecrã preto, esse muro é totalmente reconstruído diante dos nossos olhos. É a primeira vez que dois blocos de sentidos opostos são aglutinados e, apesar de se tratar do mesmo plano que passa repetido duas vezes, o vínculo lógico entre duas imagens está estabelecido.
Apesar dos filmes, dessa época, serem composto num único plano fixo, eram também extenuadamente montados, pois, não havia necessidade em mexer com a parte física que implicaria o processo de emendar as partes da película.
Além dos irmãos Lumière outro ícone da história da montagem foi Georges Méliès. Era um virtuoso ilusionista francês de sucesso que usava o corte e a dupla exposição para criar efeitos mágicos e criar mundos fantásticos. As pessoas apareciam do nada, desapareciam, cresciam assustadoramente aos nossos olhos, mas mesmo assim todas as imagens captadas eram sempre em um plano, em plano fixo.
É com estes primeiros filmes que surge o ato físico da montagem, por outras palavras, o processo de corte e cola da película de filme. Mas ainda faltava um longo caminho a percorrer até ser possível existir algo mais próximo da realidade dos nossos dias. Faltava o sentido lógico da montagem. Que consiste na utilização das diferentes distâncias, posições e movimentos de câmara que permite filmar acontecimentos e pessoas em diversas posições e ângulos.
Mas se o ato físico da montagem nasce com uma certa naturalidade no cinema, como já verificámos, o mesmo não acontece com o ato lógico da montagem. Este teve vários intervenientes ao longo da sua história. Mas deles falarei no meu próximo post.
Como já verificamos anteriormente, a sétima arte nasceu uma arte globalizada, mas o que seria do cinema se não fossem as salas de exibição? Hoje irei falar sobre as Salas de Cinema e a sua Evolução Tecnológica.
A primeira sala de cinema, o Eden-Théâtre, foi uma iniciativa de Alfred Seguin, construída pelos arquitetos William Klein e Albert Duclos, e inaugurada a 07 de Janeiro de 1883. Uns anos mais tarde foi comprada por Soula Adelaide e o marido Raoul Gallaud, que eram amigos de Antoine Lumière. Foi aqui neste cineteatro francês, situada em La Ciotat no sudeste da França, que aconteceu a primeira exibição do mundo. Ainda hoje a está intacta, no estado original, esteve fechada durante 30 anos, mas em 2007 começou um processo de reforma que custou seis milhões de euros. Reabriu no dia 09 de Outubro de 2013.
De 14 de abril de 1900 a 12 de Novembro de 1900 foi realizada a Exposição Universal de Paris, uma exposição que servia para comemorar as realizações do século passado e para acelerar o desenvolvimento para a próxima. A feira que teve uma adesão de cerca 50 milhões de pessoas, exibia muitas máquinas, invenções e arquitetura que ainda hoje são universalmente conhecidas, entre elas: os motores a diesel, escadas rolantes, roda-gigante e o telegraphone (o primeiro gravador magnético de áudio, uma espécie de fonógrafo que se podia fazer funcionar à distância). Mas o mais importante para o cinema foi a existência um cinematógrafo que projetava numa tela gigante, com 21 metros de largura e 18 metros de altura, assistido por 1,5 milhão de pessoas.
A 19 de Junho de 1905 começam aparecer, nos EUA, as primeiras salas de exibição primitivas e pequenas, a preços acessíveis e baratos, que atrairiam milhões de americanos. Estas salas chamavam-se Nickelodeon e foram o primeiro tipo de espaço de exibição coberto dedicado exclusivamente ao cinema. Este nome deriva de duas palavras: do Inglês Nickel que era à época uma moeda de 5 cêntimos e do Grego Odeion que quer dizer teatro coberto. Todas as sessões eram pagas e o valor de entrada era 1 Nickel. Estas salas alteraram drasticamente as práticas de exibição dos filmes, bem como os hábitos de lazer de um grande segmento do público americano. A classe que mais usufruiu destas salas foi a classe trabalhadora, que era o público que não podiam despender muito dinheiro para comprar um bilhete. As Nickelodeons exibiam filmes de curta duração, cerca de dez a vinte minutos, com uma grande variedade de estilos e temas. Mas elas foram desaparecendo à medida que as cidades se expandiam e a indústria proporcionava a consolidação de salas de cinema maiores, mais confortáveis e mais adequadas à exibição dos filmes.
Em 1914, ano que deu início a Primeira Guerra Mundial, cai a produção cinematográfica europeia e os filmes americanos começam a ganhar terreno. Graças a isso, Nova York assiste à inauguração da sua primeira grande sala de projeção, com capacidade para 3.300 lugares. Alguns anos mais tarde, em 1948, os grandes estúdios são obrigados por lei a vender as suas salas de cinema e passam a dividir o poder e os lucros com os exibidores.
Os princípios tecnológicos da televisão foram iniciados no final de 1920. Entre 1928-1934 foram vendidos comercialmente os primeiros televisores, no Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética. A comercialização de televisões a cores, a partir de 1953, aumentou ainda mais a popularidade dos aparelhos de televisão. A sua rápida expansão levou à queda nas receitas das salas de cinema, e os grandes estúdios, para combater esta realidade, apostam na inovação de novos sistemas, como é o caso do Cinema.
Em 1952, foi criado processo cinematográfico de widescreen que trabalha com imagens projetadas simultaneamente por três projetores de 35 mm sincronizados para um ecrã de proporções gigantescas e extremamente curva, com um arco de 146°.
A projeção em vez de ser feitas numa superfície contínua como a maioria dos ecrãs, era feita de três cabines de projeção, postas na mesma disposição que as câmaras, para uma tela extremamente curva. Era constituída por centenas de tiras verticais individuais de tecido perfurado, cada uma com 7/8 polegadas (aproximadamente 22 mm) de largura. A palavra "Cinerama" deriva da junção de cinema com panorama, a palavra "panorama" vem das palavras gregas "pan", que significa tudo, e "orama", que se traduz naquilo que é visto, uma visão, ou um espetáculo.
Foram usadas três câmaras com rolo de 35 mm equipadas com lentes de 27 mm, que é aproximadamente o comprimento focal do olho humano. Cada câmara filmava um terço do objeto filmado, uma a parte esquerda, outra a parte direita e uma terceira filmava apenas o centro do plano. Foram montadas com uma amplitude entre elas de 48º, o que davam no total uma cobertura do assunto filmado de 146º. As imagens foram captadas e projetadas a 26 frames por segundo em vez dos habituais 24. O primeiro filme a ser exibido foi a 30 de Setembro de 1952, no Teatro Broadway, em Nova Iorque.
Spyros P. Skouras, presidente da 20th Century Fox, criou em 1953 o sistema CinemaScope. Era um processo em que uma lente anamórfica distorcia e aumentava a imagem projetada em telas largas. Este evento foi uma resposta ao princípio dos processos de "realismo" mais conhecido como Cinerama. Mas apesar disso a Cinerama foi pouco afetada pela CinemaScope.
Em 1954 os engenheiros da Paramount Pictures criaram um sistema chamado de VistaVision. Com este sistema os técnicos da Paramount pretendiam ampliar a área de projeção, ao rodar a pelicula de filme no sentido horizontal. A diferença entre esta e o CinemaScope é que a VistaVision não usava lentes anamórficas e o processo da Paramount consistiu em alterar a posição das peliculas dentro da câmara como podemos ver nas imagens seguintes.
Em 1963 a AMC Theatres criou a primeira Cinema Multiplex, que eram complexos com várias salas pequenas, exibindo uma maior diversidade de filmes. Os seus criadores acreditavam que se existisse num único edifício duas salas de exibição, adicionando um segundo ecrã operado pela mesma equipa, a receita poderia dobrar.
Entre o dia 15 de março e 13 de setembro de 1970 foi realizada em Osaka, Japão, uma feira mundial que tinha o tema "Progresso e Harmonia para a Humanidade". Aqui foi visualizado o primeiro filme em IMAX. No ano seguinte no cinema Cinesphere, no Ontario Place, Toronto foi realizada a estreia da primeira instalação permanente do sistema IMAX, com a exibição do filme North of Superior. Esta sala ainda hoje está em operação.
Em 1970, a Philips desenvolveu um formato de vídeo cassete caseiro feito especialmente para uma emissora de televisão e dois anos depois foi disponibilizada a venda ao público. A Philips chamou este formato "Video Cassette Recording", mais conhecido como "N1500". Graças a estes equipamentos é possível que o cinema entre nas casas das pessoas. São criadas, se assim posso dizer, o home cinema. Graças a este facto os filmes Guerra nas Estrelas (1977) e Tubarão (1975) arrecadam mais de 100 milhões de dólares em aluguer de cassetes. Os Videoclubes espalham-se por todos os cantos, e o sistema VHS, de custo reduzido, se impõe sobre o Betamax, de melhor qualidade. Em 1933 os gravadores de VHS já estão em mais de 3/4 dos lares norte-americanos com televisão.
É na década 80 que os drive-ins praticamente chegam ao fim, dando lugar a pequenas salas de exibição, disseminadas pelos shoppings-centers. O primeiro drive-in é de 1933 e localizava-se em Camden, New Jersey.
Mas a evolução não fica por aqui. Em 1997 surge o DVD, disco versátil digital, um sistema que permite a reprodução doméstica de som e imagem em qualidade muito superior ao VHS. Mas se as pessoas acham que o DVD surgiu do nada, como uma flash, enganam-se. A evolução do DVD confunde-se com a história do cinema. A tecnologia de gravação ótica foi inventada por David Paul Gregg e James Russell em 1958 mas foi patenteada em 1961.
Um formato de disco ótico de dados, conhecido como LaserDisc, foi desenvolvido nos Estados Unidos, mas chegou ao mercado em 1978. Era um formato de disco muito maior do que os formatos posteriores. Devido ao alto custo de leitores e discos, a adesão por parte do consumidor de LaserDisc foi muito baixa, tanto na América do Norte como na Europa. Mas esta evolução permitiu que o consumo de cinema em casa fosse cada vez maior, estava assim criada a sala de cinema caseira. A venda de DVDs torna-se, então, a maior fonte de renda da indústria cinematográfica, superando bilheterias e cópias VHS.
Em 1994 é criado o primeiro browser capaz de realizar navegações de forma simples, por meio de links, como se usa atualmente, popularizando o uso da Internet fora do meio académico. Em 1999 a NBTel (agora conhecida como Bell Aliant) foi a primeiro a implantar comercialmente o sistema de transmissão de televisão via internet (IPTV), utilizaram o Alcatel 7350 DSLAM e middleware criado pela TV iMagic (de propriedade da empresa-mãe da NBTel Bruncor). Este sistema permite a interação dos usuários, a escolha, a interrupção ou avanço de conteúdo, ou mesmo a aquisição de produtos.
Hoje em dia a conexão de Internet em banda larga atinge um desempenho suficientemente bom para permitir que imagens e sons de alta qualidade sejam compartilhados entre os internautas. E graças a esta realidade surge o YouTube, mais uma forma de conseguirmos ver em qualquer lugar um bom filme. Nasce assim a sala de cinema móvel. Mas não só, a pirataria, a Internet, o download, a exibição on-line e os aparelhos móveis de exibição de imagens (ipod, mp4, telemóveis) levam o cinema a públicos inimagináveis até então.
Estes contínuos e interruptos avanços tecnológicos fazem com as câmaras digitais de vídeo, leves, ágeis e de baixo custo, se aproximam em qualidade às imagens produzidas em película. Graças a isso, surgem centenas de produtores independentes, que, graças às novas tecnologias, podem reduzir os custos de produção e ampliar os circuitos de exibição dos seus filmes.
Os vídeos amadores passam a competir pela atenção de uma plateia global. Webcams e câmaras de telemóveis passam a ser consideradas instrumentos criativos de produção de vídeo. O telemóvel surge, assim, como a quarta tela, uma opção para além do cinema, televisão e computador. Além disso, o pequeno gadget suíço – o telemóvel –, passa a ser considerado um instrumento criativo de produção de vídeo, pois permite a criação de vídeos amadores e, que estes passem a competir pela atenção de uma plateia global.
Resultado disso, em 2005, é criado o Festival Pocket Films, que apresenta ficções e documentários filmados por telemóveis em Paris. Em 2007, O Sundance Institute e a GSM Association apresentam cinco curtas-metragens produzidas para exibição em telemóveis, num festival realizado em Barcelona.
O mês passado falei da primeira sessão pública de cinema, a 28 de dezembro de 1895, considerada a data mais importante para o nascimento daquela que viria ser considerada a sétima arte, bem como os seus impulsionadores. Nesse mesmo dia os irmãos Lumière utilizaram a película de filme de 35 mm que se movia à velocidade de 16 frames por segundo, tornando-se a medida padrão para todas as produções cinematográficas. Contudo, a história desta arte não fica apenas pelo sucesso desse acontecimento marcante que fez com que os irmãos ficassem conhecidos como os pais do cinema moderno.
Rapidamente a França e Nova York tornaram-se os grandes centros cinematográficos, e as francesas Gaumont e Pathé, as maiores produtoras do mundo. Nos Estados Unidos da América, a Edison Company disputava o mercado cinematográfico com a Biograph e a Vitagraph.
Os primeiros filmes desta época, e durante muitos anos, foram os filmes mudos, mas apesar de tudo, estes não eram assistidos em silêncio. As suas cenas eram acompanhadas por música tocada ao piano, e muitas vezes, por música ambiente, executada por orquestras.
Incluíam legendas, em fundo preto, que explicavam as ações e diálogos dos personagens. Muitas vezes também era comum um narrador explicar a história ao público enquanto as cenas eram projetadas.
Isto permitiu que a expressão cinematográfica se tornasse rapidamente um fenómeno global. Por quê? Porque como os diálogos eram escritos, não falados, era possível que o filme fosse traduzido em qualquer língua. Um filme que era realizado na França facilmente poderia ser exibido na Turquia, pois só era necessário mudar as legendas que apareciam sobre um quadro preto.
Hoje fico por aqui, o essencial está dito, podemos compreender que o cinema foi a obra de arte que já nasceu globalizada. Internacionalmente compreendida e amada desde muito cedo. Mas sobre a história desta arte que apaixona todas as pessoas, falarei num próximo post.
Como verificámos até aqui o cinema não teve só um inventor, sofreu um longo processo de evolução. Um dos grandes contributos foi a invenção da fotografia. Mas, o mais importante para o desenvolvimento do cinema tal como o conhecemos hoje, ou seja, a sétima arte, foi a criação do cinematógrafo, dos Irmãos Lumière, em 1895. Este é considerado um aperfeiçoamento do cinetoscópio de Thomas Edison (em 1888).
Mas quais são as diferenças entres os dois dispositivos? A maior diferença entre eles é o número de pessoas, em simultâneo, que poderiam assistir às imagens projetadas. O cinetoscópio apenas permitia uma pessoa de cada vez, pois era necessário olhar para o interior de uma câmara escura, por meio de um orifício, para observar as imagens. Ao contrário do cinematógrafo em que a experiência visual proporcionada podia ser feita coletivamente.
Thomas Edison não chegou a patentear o cinetoscópio possibilitando que outros inventores pudessem aperfeiçoarem o seu modelo. E foi o que aconteceu em 1892 pelo francês Léon Bouly. A partir do cinetoscópio, Bouly desenvolve o cinematógrafo, um protótipo que conseguia gravar e projetar as imagens numa parede, mas infelizmente por não possuir recursos financeiros não conseguiu registar a patente. O cinematógrafo viria mais tarde a ser patenteado pelos irmãos Lumière, que com ele começaram a fazer as primeiras experiências cinematográficas.
Em 28 de dezembro de 1895 em Paris, na cave do Grand Café, considerada a primeira sala de cinema do mundo, nasceria o que hoje conhecemos como a arte cinematográfica. Nesse dia os irmãos Auguste e Louis Lumière realizariam aquela que foi a primeira exibição pública, e paga, do mundo do cinema.
Foi exibido uma série de dez filmes, com a duração de 40 a 50 segundos cada um, mas os filmes que ficaram para a história foram apenas dois: “A chegada do comboio à Estação Ciotat” e “A saída dos operários da Fábrica Lumière”. Apenas pelos títulos dos filmes conseguimos compreender muito bem qual teria sido o seu conteúdo. Falarei um pouco mais sobre cada um deles.
O Filme “A chegada do comboio à Estação Ciotat” é um pequeno filme com a duração de apenas 44 segundos, foi todo gravado em plano geral, e retrata a chegada de um comboio a uma estação de caminhos-de-ferro.
“A saída da Fábrica Lumière em Lyon” tem 48 segundos, e também é gravado todo em plano geral, e mostra a saída dos funcionários do interior da empresa Lumière, na cidade de Lyon, na França.
Nascia assim o cinema como hoje conhecemos. Uma arte de massas, um espetáculo coletivo e um sucesso global. Com os irmãos Lumière também nasceria as primeiras “direções cénicas” para o cinema, os pais do cinema não ficariam por aqui… Esta dupla continuaria a fazer mais filmes e muitos deles registavam cenas do quotidiano.
Desde uma brincadeira de uma criança a um homem que regava as plantas, mas que no fim é regado pela mangueira; um casal que dá comida ao seu pequeno/grande bebé; um grupo de amigos que jogam às cartas ou até mesmo a demolição de uma parede. São exemplos de outros filmes dos irmãos Auguste e Louis Lumière e que nos demonstra que a “direção cénica” para o cinema aparece ao mesmo tempo que o cinematógrafo.
Mas se os meus caros leitores acham que a evolução do cinema fica por aqui é uma pura ilusão. Até aqui só era possível fazer, com o cinematógrafo, apenas um tamanho de plano: o plano geral/long shot. Sobre o que veio possibilitar a grande variação de enquadramentos, e a magia do cinema moderno, falarei num outro post.
A seguir deixo-vos todos os vídeos da autoria dos pais da sétima arte.
John Wesley Hyatt (1837/1920) foi um inventor americano e ficou conhecido, especialmente, por ter simplificado o método de fabricação de celuloide. Em 1914 foi galardoado com a Medalha Perkin. Mas foi o inglês Alexander Parkes que, em 1862, apresentou na feira Great Exhibition em Londres a Parkesina: a primeira celuloide. Graças a esta descoberta foi galardoado com uma medalha de bronze pela sua invenção. Muitos consideram a Parkesina como o nascimento da indústria de plásticos.
John Wesley Hyatt adquiriu a patente de Parkes e começou a fazer experiências com nitrato de celulose com a intenção de fabricar bolas de bilhar, que até então eram feitas de marfim. Ele utilizou tecido, pó de marfim e laca, e em 6 de Abril de 1869, patenteou um método de cobrir bolas de bilhar com a adição de colódio. Assim teria nascido a celuloide que posteriormente foi usado como base para o filme fotográfico.
Em 1878 o fotógrafo britânico Charles E. Bennett utiliza o celuloide na fabricação da película fotográfica e estabelece alguns princípios técnicos da revelação. Inventa uma placa seca revestida com uma mistura de gelatina e brometo de prata com a qual ele conseguiu reduzir o tempo de exposição para um quarto de segundo, sendo um grande avanço tecnológico no campo da fotografia.
Eadweard Muybridge (1830/1904) foi um fotógrafo inglês que teve um contributo muito importante para o avanço da fotografia, pois desenvolveu um sistema para a captação instantânea de imagens. Muitas pessoas da sua época defendiam que os cavalos quando corriam mantinham as quatro patas no chão. Fotografou com sucesso o galope de um cavalo frame a frame, para isso utilizou 24 câmaras, dispostas em diferentes posições, de modo a captar as diversas fases da corrida de um cavalo, tendo esclarecido assim a polémica em torno da possibilidade de um cavalo a galope pousar ou não, ao mesmo tempo, as quatro patas no chão.
Esta experiência mostra-nos que todos os cascos não ficam em contacto com a terra. Além disso, também podemos ver pelas imagens acima, que as 4 patas não ficam completamente estendidas, elas ficam um pouco dobradas, quando "puxam" as patas dianteiras "empurram" as traseiras, e vice-versa. Inventou o zoopraxiscópio, um dispositivo que permitia, ao rodar rapidamente um disco de vidro, uma sucessão de imagens que dava a impressão de movimento.
Étienne-Jules Marey (1830/1904) foi um francês cientista, fisiologista e cronofotógrafo, seus estudos e experiências tiveram uma importante contribuição para o progresso da cardiologia, da instrumentação física, aviação, cinematografia e da fotografia. Ele é considerado, por muitos, um dos pioneiros da fotografia e um influente impulsionador da história do cinema.
Insatisfeito com o sistema criado por Muybridge, em 1878, cria o fúsil fotográfico, que permitiu a fotografia em série. Marey tinha como principal objetivo estudar mais de perto o movimento em geral, o voo dos pássaros, bem como a vida animal. Este dispositivo permitia captar 12 imagens consecutivas por segundo, com uma exposição de 1/720 por cada foto. O facto mais interessante é que todas as imagens ficavam registadas numa única imagem.
O fúsil fotográfico era um cilindro forrado por dentro com uma chapa fotográfica circular. Para captar as imagens era necessário apertar um gatilho e assim que este era acionado as imagens ficavam gravadas num suporte circular idêntico ao tambor de um revólver. Ficou conhecido como a primeira máquina fotográfica do mundo porque o mecanismo do revólver era semelhante ao da câmara fotográfica moderna.
Com este dispositivo o movimento real da vida havia sido captado e fixado, em todas as suas fases, num suporte transparente, flexível e sensível: a película fotográfica. Estava, assim, realizado não só um pequeno passo para os estudos fotográficos da época, mas também um grande e importante passo para o desenvolvimento da técnica cinematográfica.
George Eastman (1854/1932) foi um inventor americano e empresário que fundou a Eastman Kodak Company e popularizou o uso do rolo de filme fotográfico, permitindo que a fotografia pudesse chegar ao mundo dos consumidores.
Em 1884, Eastman patenteou a primeira pelicula fotográfica em forma de rolo, de 24 exposições, possibilitando que a fotografia fosse realizada de uma forma mais comoda e prática. Em 1888, lança a câmara Kodak, a primeira câmara a ser projetada para um fim comercial, tornando a base da fotografia acessível a todos.
Hannibal Williston Goodwin (1822/1900) foi um padre americano que realizou investigações no campo da fotografia. O contributo mais importante foi o processo para a produção de película perfurada à base de nitrocelulose transparente resistente e flexível, dando um passo fundamental na produção de imagens em movimento e que mais tarde foi utilizado no Cinematoscópio de Thomas Edison.
A 2 de Maio de 1887, fez a apresentação da sua invenção, mas a oficialização da patente da sua descoberta entra em conflito com a da Eastman Kodak, pois esta também tinha começado a produção do mesmo produto. O Processo durou mais de dez anos, posteriormente a patente foi vendida à “Ansco”, empresa fotográfica, que processou com sucesso a Eastman Kodak por violação de direitos e conseguiu, assim, receber mais de cinco milhões de dólares.
Thomas Edison (1847/1931) foi um dos maiores inventores da humanidade. A sua maior invenção foi da lâmpada elétrica. Mas no campo da fotografia um dos maiores contributos foi a criação de um laboratório, perto de West Orange (New Jersey), onde realizou as suas experiências na área das “imagens movimento”. Este laboratório veio a tornar-se no primeiro estudo de cinema mundial.
Edison é considerado por alguns estudiosos como o designer da primeira máquina de filmar: o cinetógrafo. Era uma câmara fotográfica que fazia várias fotos por segundo, capturando, assim, uma sequência de imagens em movimento.
Inventou também o cinetoscópio, que é uma caixa com um visor individual, através do qual se podia assistir à passagem ininterrupta de uma pequena tira de filme com imagens fotográficas em movimento. Os filmes poderiam ser vistos mediante a inserção de uma moeda, por isso, não pode ser considerado um espetáculo público, porque só uma pessoa de cada vez podia ver a animação.
“A invenção raramente é devida ao acaso: ela corresponde a uma necessidade profunda e geral, tanto económica como intelectual” (J-A Lesourd e C. Gérard). Várias foram as formas que o homem inventou para gravar e reproduzir as suas manifestações culturais. A fotografia foi uma das formas mais perfeitas e práticas que o homem encontrou para atingir esse objetivo. A fotografia não foi inventada apenas por uma pessoa, foi o resultado de muitas experiências e invenções ao longo dos séculos, e muitos progressos foram necessários para termos a fotografia, que hoje conhecemos, revelada em papel.
Louis-Jacques Mandé Daguerre (1787/1851) foi um artista francês, pintor, cenógrafo, físico e inventor, conhecido como um dos pais da fotografia. Daguerre pesquisou com Niepce um processo que permitisse a fixação de imagens em placa metálica de iodeto de prata. Joseph Nicéphore Niépce (1765/1833) foi um inventor francês e quem desenvolveu a heliografia.
A Heliografia consiste num processo em que a imagem é feita através de uma placa de estanho coberta com betume branco da Judeia, que se tornava insolúvel pela luz. As partes que não eram expostas à luz, o betume era retirado com uma solução de essência de lavanda. O inconveniente deste processo é que tem baixa velocidade de captação e produz uma imagem com pouca qualidade.
Desta experiência, em 1826, ao expor uma das suas placas de estanho, durante aproximadamente 8 horas, na sua câmara escura conseguiu uma imagem do quintal da sua casa. Esta imagem viria a resultar naquela que é considerada, por muitos, a primeira fotografia da história.
Neste mesmo ano, Niépce, por intermédio Vicent Chevalier, conhece Daguerre. Ambos assinam um contrato, em 14 de Dezembro de 1829, em que Niépce prescinde da sua invenção e Daguerre emprega uma nova combinação com a câmara escura, os seus talentos e a sua indústria. Niépce morre em 1833, na sua casa do Gras, sem ter aperfeiçoado muito o seu processo e assim deixando a sua obra nas mãos de Daguerre.
Daguerre aperfeiçoa a heliografia e descobre que se usasse vapor de mercúrio e trissulfato de sódio para fixar as imagens o tempo de revelação das fotografias diminuía para minutos. Em 1837, passa de várias dezenas de horas de exposição a uma hora, além disso melhora a qualidade da imagem, graças à utilização de melhores óticas.
Em 1835 assina um novo contrato, desta vez, com o filho Isidore de Niépce. Juntos lançam o processo chamado daguerreótipo, em que uma placa de cobre prateada e polida, submetida a vapores de iodo, formava sobre si uma camada de iodeto de prata. Esta placa era revelada em vapor de mercúrio aquecido, exposta à luz numa câmara escura durante um período de quatro a dez minutos, consoante a iluminação do objeto, e com uma abertura em torno de f/15. Apesar de não ser possível fazer cópias com o sistema de Daguerre, rapidamente foi divulgado por todo o mundo.
Daguerre morre em Julho de 1851, retirado em Bry-sur-Marne, tendo abandonado a fotografia em favor da pintura, a sua primeira profissão. A sua morte deixa a França indiferente. Todavia, em 1851, o daguerreótipo está no seu apogeu: é usado no mundo inteiro.
William Henry Fox Talbot (1800-1877) foi um homem notável da ciência, escritor e pioneiro da fotografia. Em 1834 começa a fazer experiências com papel impregnado com nitrato de prata fixado com sal de cozinha. Ele desconhecia os trabalhos de Niépce e Daguerre, pois sem saber, Talbolt fez o que Niépce já havia realizado em 1816, mas sem ter, todavia, conseguido fixar as imagens. A este processo fotográfico Talbot chama de calótipo, do grego kalos (beleza). Trata-se, sem dúvida, de um aperfeiçoamento da técnica de Niépce e Daguerre.
Muitos estudiosos afirmam que com a técnica do calótipo Talbot inventou o que viria a ser a fotografia moderna: o negativo-positivo, que aliás designa desta maneira, a revelação da imagem latente e a possibilidade de reproduzir as imagens. Para quem não sabe entende-se por imagem latente toda a imagem que é gravada por um processo químico em chapa ou filme fotográfico sensibilizado pela ação da luz, e que só vem a ficar visível depois de revelada em um banho apropriado.
Hippolyte Bayard (1801/1887), o mais ignorado dos quatros inventores, é um culto homem do Norte de França. Contemporâneo de Nicéphore Niépce, Louis Daguerre e de William Fox Talbot. Em 1839, realiza, a partir de Fevereiro, ensaios sobre papel de sensibilizado e obtém, um mês mais tarde, provas positivas diretas com aspetos de desenhos, por causa da textura do papel.
O método de Bayard é semelhante ao que hoje é utilizado pelo sistema Polaroid. O processo consistia no mergulho de uma folha de papel numa solução de cloreto de sódio e depois de a folha estar seca ela era mergulhada numa solução de nitrato de prata. Depois desse processo, Bayard, expunha-a a vapores de iodo e depois a vapores de mercúrio. O tempo de exposição variava entre trinta minutos e duas horas.
Este procedimento não foi levado a sério como foram os casos dos estudos dos seus contemporâneos. Mas longe de se sentir desencorajado pelos seus insucessos, continua as suas pesquisas, realizando mesmo antes da divulgação do daguerreótipo, a primeira exposição de fotografia da história, com cerca de trinta provas, no quadro de uma festa de caridade.
O mês passado falei sobre a descoberta da “Persistência Retiniana", e levantei o véu sobre as várias invenções que surgiram após essa descoberta importante para a história do cinema mundial. Hoje abordarei cada uma dessas invenções.
1. Taumatrópio
A palavra Taumatrópio significa “que se transforma em algo maravilhoso”. Foi um brinquedo muito popular no século XIX. É um disco com uma imagem de cada lado que está ligado a dois pedaços de corda. Quando as cordas são giradas rapidamente entre os dedos as duas imagens parece que se misturam numa única imagem devido à persistência da retiniana. Os exemplos mais comuns são uma ave de um lado e uma gaiola do outro ou uma árvore sem folhas de um lado do disco, e do outro lado encontramos as folhas. Foi inventado por Willian Fitton em 1825.
2. Fenacistoscópio
O Fenacistoscópio é um dispositivo que usa o princípio da persistência retinia para criar uma ilusão de movimento, considerado como uma das primeiras formas de meio de entretenimento que abriu o caminho para o cinema.
É constituído por um círculo giratório, com fendas radiais equidistantes e um espelho, ligado verticalmente a uma peça que serve para segurar. No centro desse círculo existe uma sequência de desenhos que serão usados para criar a animação. Para funcionar temos que girar o disco e olhar através das fendas, isto, permite uma rápida sucessão de imagens que criar a ilusão de ser uma única imagem em movimento.
Existiu um outro tipo de Fenacistoscópio que tem dois discos, um com fendas e um com imagens. Desta forma não precisa de espelho. Ao contrário do Zootrópio e dos seus sucessores, o Fenacistoscópio só poderia praticamente ser usado por uma pessoa de cada vez.
3. Zootrópio
O zootrópio é um dos vários dispositivos considerados antecessores legítimos do cinema de animação. Funciona com o mesmo princípio do Fenacistoscópio, mas permite que seja utilizado por várias pessoas ao mesmo tempo. Em vez das imagens serem dispostos radialmente num disco, a sequência de imagens que retratam as fases do movimento é numa tira de papel. A forma básica do zootrópio foi criada em 1833 pelo matemático britânico William George Horner, que estava ciente do valor do recém-inventado Fenacistoscópio.
O zootrópio é constituído por um cilindro com ranhuras cortadas no sentido vertical nos lados. Na superfície interna do cilindro existe uma faixa com um conjunto de imagens sequenciais. Quando o cilindro gira, o utilizador olha através das fendas e, como no Fenacistoscópio, cria uma rápida sucessão de imagens, produzindo a ilusão de movimento.
4. Folioscópio
O Folioscópio, mais conhecido por Flip Book, é um livro com uma série de imagens que variam gradualmente a partir de uma página para outra, de forma que quando as páginas são viradas rapidamente, criar-se a ilusão de movimento.
Os Flip Book além de existirem em livro, também, podem, aparecer como um recurso adicional em livros comuns ou revistas, muitas vezes nos cantos das páginas. Existem software hoje em dia que servem para converter arquivos de vídeo digitais em Flip Book.
O Folioscópio, como todos os dispositivos que criam a ilusão de movimento, dependem do fenómeno da persistência da retiniana – que já falei num post anterior –, para criar a ilusão da existência de um movimento contínuo, em vez de uma série de imagens descontínuas.
5. Praxinoscópio
O Praxinoscópio foi o sucessor do zootrópio. Foi inventado na França em 1877 por Charles-Émile Reynaud. Ambos têm o mesmo princípio básico, pois utilizavam imagens colocados à volta da superfície interior de um cilindro.
Para muitos o Praxinoscópio foi uma evolução do seu antecessor: o zootrópio. As fendas estreitas que serviam para a visualização das imagens foram substituídas por espelhos que impossibilitavam a visualização direta.
Só era possível visualizar as imagens graças a um complexo sistema de lentes e espelhos. Com esta invenção tornou-se possível a projeção dessas imagens numa tela, como no cinema de hoje, o que igualmente permitiu a criação de um espetáculo aberto ao público.
Muito fica por dizer sobre estas invenções que contribuíram para o nascimento do cinema, como hoje conhecemos. Mas fica o essencial para entendermos que todos os contributos que abordei, até aqui, foram importantíssimos para escrever a história da sétima arte.
Hoje, meus amigos leitores, iremos falar sobre a Persistência Retiniana. Persistência Retiniana ou Persistência da Visão refere-se à ilusão de ótica em que várias imagens distintas unem-se numa única imagem na mente humana. Por outras palavras, é a Capacidade que a retina possui para reter a imagem de um objeto por cerca de alguns segundos após o seu desaparecimento do campo de visão, ou seja, é a fração de segundo em que a imagem permanece na retina. E acredita-se que essa é a explicação para a perceção do movimento no cinema. Como outras ilusões de perceção visual, que é produzida por algumas das características do sistema visual.
O olho é um órgão do nosso corpo extremamente complexo. É uma estrutura desenvolvida com a função de receber as imagens com a melhor qualidade possível. Pode ser comparado a uma câmara fotográfica. Pois é constituído por mecanismos que consegue focar objetos e controlar a quantidade de luz, produzindo uma imagem nítida.
Quando observamos um objeto, paisagem ou pessoa essa imagem atravessa em primeiro lugar a córnea, uma película transparente que protege o olho. Depois chega à íris, aquela que regula a quantidade de luz por meio de uma abertura chamada pupila. Quanto maior for a pupila maior será a quantidade de luz que entra no olho. Quando imagem já passou pela pupila ela chega a uma espécie de lente chamada de cristalino, e é focada sobre a retina. Essa lente produz uma imagem invertida mas o cérebro converte-a para a posição correta.
O conceito de persistência retiniana é conhecido desde o Antigo Egito, mas só a 9 de Dezembro de 1824, o médico inglês Peter Mark Roget apresentou um artigo à Sociedade Real Britânica intitulado “Explanation of an optical deception in the appearance of the spokes of a wheel when seen through vertical apertures” (Explicação de uma ilusão ótica no aparecimento dos raios de uma roda, quando vista através de aberturas verticais).
Esta teoria deu origem a vários dispositivos de reprodução de imagens em movimento, como o Taumatrópio, o Praxinoscópio, o Zootrópio, Fenacistoscópio e o mais popular deles – o flipbook. Além do próprio Kinetoscópio de Edison e o Cinematógrafo dos irmãos Lumière. Sendo este último considerado o marco inicial da história do cinema. Mas sobre todos eles irei falar melhor num próximo post, bem como o contributo deles para o cinema que hoje conhecemos.