terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A História do Som no Cinema – Parte 1

O mês passado conclui o tema, como se lembram, a respeito da trilogia da montagem no cinema. Desta vez irei falar sobre o áudio para o sucesso cinematográfico do século XXI. A minha questão é: o que seria o cinema atual se não houvesse uma união entre som e imagem? Esta junção permitiu-nos conseguir a edição que hoje vemos, ouvimos, e sentimos na “tela”, na “telinha” e na “telona”. Neste sentido, a evolução do som no cinema ao longo destes últimos anos será o foco desta minha nova postagem.

Dizer que o cinema nem sempre foi totalmente sonoro posso correr o risco de ouvir várias respostas: Como assim? A música não é som? ou Claro, isso é obvio! Quem é que não sabe isso… que nunca foi 100% sonoro? Sim, é verdade que no início do cinema os filmes tinham som, se considerarmos o acompanhamento musical do piano. Porem, nem todas as salas de cinema possuíam verba suficiente para contratar um pianista, e por isso, muitas veze, o filme era visto sem acompanhamento de qualquer tipo de som. Mas o meu objetivo essencial, deste post, não é entrar em discussões com ninguém, e sim, deixar aqui um pouco da história do som no cinema.

Como muita gente sabe a possibilidade de gravar o som nasceu alguns anos antes da invenção do cinema, em 1877, tudo graças ao grande Thomas Edison e à sua célebre invenção nomeada por Fonógrafo. Era um dispositivo onde se podia gravar e reproduzir o som impresso num cilindro de cera. Dois problemas rapidamente surgiram: um é que o fonógrafo não era bastante potente para ser audível por uma grande plateia, pois era constituído por um cone acústico muito pequeno; o outro é que não existia sincronismo entre imagem e som.

Tudo mudaria em 1906 com Lee De Forest, um inventor americano, proclamado como o "pai do rádio", e um pioneiro no desenvolvimento da gravação de som para cinema, ao inventar a Audion Tube (válvula eletrónica de três elementos), primeiro dispositivo eletrónico que poderia reproduzir um pequeno sinal e amplifica-lo. Era um tubo de vidro que continha três elétrodos, um filamento aquecido e uma placa metálica.


Em 1919 três inventores – Josef Engl, Joseph Massole e Hans Vogt – patentearam o processo Tri-Ergon, o nome deriva do grego e significa "o trabalho de três", que convertia as ondas de áudio em eletricidade e através da válvula eletrónica de três elementos, de Lee De Forest, era registado no negativo do filme. Usaram uma forma especial de microfone sem partes mecânicas móveis (Katodophone) para a captação do som e um tubo especial de descarga elétrica com densidade variável para conseguir a gravação na pelicula. Para a reprodução do som, o sistema utilizou um alto-falante eletrostático, utilizando igualmente a válvula eletrónica de três elementos, em que a luz produzida pela válvula era convertida de novo em som.

Este processo resolveu uma questão muito importante, que desde Edison ninguém tinha conseguido, a sincronização Som/Imagem. Mas ainda existia o problema da baixa, ou falta, de amplificação suficiente para ser audível numa sala de cinema.


Em 1922, De Forest tinha projetado o seu próprio sistema que permitia ser audível para uma grande plateia: o Phonofilm, um sistema ótico de gravação que registrava o som em pelicula de filme. Inaugurou neste mesmo ano a De Forest Phonofilm Company para produzir uma série de pequenos filmes sonoros em Nova Iorque. A 15 de abril de 1923 foram exibidas dezoito curtas-metragens feitas em Phonofilm no Teatro Rivoli na rua 1620 Broadway, em Nova Iorque.

Nenhum dos estúdios de Hollywood manifestou interesse na sua invenção, porque nessa época eles controlavam todas as grandes salas, Forest estava assim limitado a exibir os seus filmes em salas de teatro independentes. Isto levou que a sua empresa entrasse em processo de falência em setembro de 1926, apesar disso, mais 1000 filmes foram feitos no espaço desses quatro anos.

Graças ao contributo de todos estes inventores – desde Edison a De Forest – tinha nascido o declínio do cinema mudo, se assim posso dizer. É que o som rapidamente foi adotado por todas as produtoras, pois o público manifestava que não queria ver mais os filmes mudos, e a cultura cinematográfica teve que se adaptar a esta nova realidade.


Perante este cenário, atores, argumentistas e realizadores têm que reformular os fundamentos da linguagem cinematográfica. Em Hollywood, por exemplo, os atores que se tinham tornando astros pela sua beleza física, mas tinham vozes feias ou tinham sotaque estrangeiro, veem as suas carreiras desabar. Por esta e outras razões estéticas Chaplin afirma ser contra o cinema sonoro: O cinema sonoro, vocês podem dizer a toda a gente que o detesto, destrói a beleza do silêncio. Apesar de ter sido um resistente a esta tendência, já globalizada na indústria cinematográfica, vai aos poucos adicionando algumas características estéticas que o sistema de gravação de som lhe podia dar.

Não foi só uma questão estética, propriamente dita, e artística que sofreram grandes alterações. As salas de exibição e estúdios têm de ser reconstruídos, repensados, pois necessitavam de isolamento acústico. As gravações de cenas externas ficam momentaneamente impossibilitadas de acontecer, pois ainda não havia na época, um sistema portátil de captação de som. E além disso, os filmes passam a apresentar 24 fotogramas por segundo, em vez dos 16 fotogramas adotados durante a era do cinema mudo, para possibilitar a sincronização de áudio e vídeo.