O mês passado conclui o tema, como se lembram, a respeito da trilogia da montagem no cinema. Desta vez irei falar sobre o áudio para o sucesso cinematográfico do século XXI. A minha questão é: o que seria o cinema atual se não houvesse uma união entre som e imagem? Esta junção permitiu-nos conseguir a edição que hoje vemos, ouvimos, e sentimos na “tela”, na “telinha” e na “telona”. Neste sentido, a evolução do som no cinema ao longo destes últimos anos será o foco desta minha nova postagem.
Dizer que o cinema nem sempre foi totalmente sonoro posso correr o risco de ouvir várias respostas: Como assim? A música não é som? ou Claro, isso é obvio! Quem é que não sabe isso… que nunca foi 100% sonoro? Sim, é verdade que no início do cinema os filmes tinham som, se considerarmos o acompanhamento musical do piano. Porem, nem todas as salas de cinema possuíam verba suficiente para contratar um pianista, e por isso, muitas veze, o filme era visto sem acompanhamento de qualquer tipo de som. Mas o meu objetivo essencial, deste post, não é entrar em discussões com ninguém, e sim, deixar aqui um pouco da história do som no cinema.
Como muita gente sabe a
possibilidade de gravar o som nasceu alguns anos antes da invenção do cinema,
em 1877, tudo graças ao grande Thomas Edison e à sua célebre invenção nomeada
por Fonógrafo. Era um dispositivo onde se podia gravar e reproduzir o som
impresso num cilindro de cera. Dois problemas rapidamente surgiram: um é que o
fonógrafo não era bastante potente para ser audível por uma grande plateia,
pois era constituído por um cone acústico muito pequeno; o outro é que não
existia sincronismo entre imagem e som.
Tudo mudaria em 1906 com Lee
De Forest, um inventor americano, proclamado como o "pai do rádio", e
um pioneiro no desenvolvimento da gravação de som para cinema, ao inventar a Audion Tube (válvula eletrónica de três
elementos), primeiro dispositivo eletrónico que poderia reproduzir um pequeno
sinal e amplifica-lo. Era um tubo de vidro que continha três elétrodos, um
filamento aquecido e uma placa metálica.
Em 1919 três inventores – Josef
Engl, Joseph Massole e Hans Vogt – patentearam o processo Tri-Ergon, o nome
deriva do grego e significa "o trabalho de três", que convertia as
ondas de áudio em eletricidade e através da válvula eletrónica de três
elementos, de Lee De Forest, era registado no negativo do filme. Usaram uma
forma especial de microfone sem partes mecânicas móveis (Katodophone) para a
captação do som e um tubo especial de descarga elétrica com densidade variável
para conseguir a gravação na pelicula. Para a reprodução do som, o sistema
utilizou um alto-falante eletrostático, utilizando igualmente a válvula
eletrónica de três elementos, em que a luz produzida pela válvula era
convertida de novo em som.
Este processo resolveu uma
questão muito importante, que desde Edison ninguém tinha conseguido, a
sincronização Som/Imagem. Mas ainda existia o problema da baixa, ou falta, de
amplificação suficiente para ser audível numa sala de cinema.
Em 1922, De Forest tinha
projetado o seu próprio sistema que permitia ser audível para uma grande
plateia: o Phonofilm, um sistema
ótico de gravação que registrava o som em pelicula de filme. Inaugurou neste
mesmo ano a De Forest Phonofilm Company para
produzir uma série de pequenos filmes sonoros em Nova Iorque. A 15 de abril de
1923 foram exibidas dezoito curtas-metragens feitas em Phonofilm no Teatro
Rivoli na rua 1620 Broadway, em Nova Iorque.
Nenhum dos estúdios de Hollywood
manifestou interesse na sua invenção, porque nessa época eles controlavam todas
as grandes salas, Forest estava assim limitado a exibir os seus filmes em salas
de teatro independentes. Isto levou que a sua empresa entrasse em processo de
falência em setembro de 1926, apesar disso, mais 1000 filmes foram feitos no
espaço desses quatro anos.
Graças ao contributo de todos
estes inventores – desde Edison a De Forest – tinha nascido o declínio do
cinema mudo, se assim posso dizer. É que o som rapidamente foi adotado por
todas as produtoras, pois o público manifestava que não queria ver mais os
filmes mudos, e a cultura cinematográfica teve que se adaptar a esta nova
realidade.
Perante este cenário, atores, argumentistas
e realizadores têm que reformular os fundamentos da linguagem cinematográfica.
Em Hollywood, por exemplo, os atores que se tinham tornando astros pela sua
beleza física, mas tinham vozes feias ou tinham sotaque estrangeiro, veem as
suas carreiras desabar. Por esta e outras razões estéticas Chaplin afirma ser
contra o cinema sonoro: O cinema sonoro,
vocês podem dizer a toda a gente que o detesto, destrói a beleza do silêncio. Apesar
de ter sido um resistente a esta tendência, já globalizada na indústria
cinematográfica, vai aos poucos adicionando algumas características estéticas
que o sistema de gravação de som lhe podia dar.
Não foi só uma questão
estética, propriamente dita, e artística que sofreram grandes alterações. As
salas de exibição e estúdios têm de ser reconstruídos, repensados, pois
necessitavam de isolamento acústico. As gravações de cenas externas ficam
momentaneamente impossibilitadas de acontecer, pois ainda não havia na época,
um sistema portátil de captação de som. E além disso, os filmes passam a
apresentar 24 fotogramas por segundo, em vez dos 16 fotogramas adotados durante
a era do cinema mudo, para possibilitar a sincronização de áudio e vídeo.
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